Militares bolivianos chefiados pelo ex-comandante do Exército Juan José Zúñiga ensaiaram um golpe de Estado. Depois de tentar ocupar o palácio do governo e ordenar a derrubada do presidente Luis Arce, Zúñiga foi preso. Ao ser detido, afirmou que agiu a mando de Arce, que teria tentado um autogolpe. Segundo ele, as cenas que o mundo inteiro viu de um tanque derrubando a porta do palácio presidencial e bombas de gás lacrimogêneo sendo jogadas sobre a população, que saiu às ruas em defesa da democracia, teriam sido uma espécie de teatro combinado entre os dois. O general golpista chegou a se encontrar com Arce na tentativa de invasão ao palácio, e o presidente ordenou que o militar se retirasse, demitiu os chefes das Forças Armadas e nomeou substitutos. O novo comandante do Exército reiterou a ordem, e as tropas esvaziaram a praça em frente ao palácio presidencial. Zúñiga disse ao ser preso que conversou com Arce antes da tentativa de golpe. "O presidente me disse que a situação está muito crítica, que era preciso algo para levantar sua popularidade." O general teria perguntado ao presidente: "Colocamos os blindados na rua?". E Arce teria respondido que sim. Zúñiga e os demais envolvidos na tentativa de golpe serão investigados por terrorismo e ataque armado contra a segurança e soberania do Estado. (El Deber e Folha) A ação durou três horas. Zúñiga era um dos militares mais próximos de Arce, o que está levando evistas a acreditarem na versão do autogolpe. (El Deber) Arce denunciou a "mobilização irregular" de algumas unidades do Exército do país no começo da tarde em uma publicação no X, logo após o tanque de guerra se chocar contra uma das portas de entrada do palácio presidencial em La Paz. Soldados chegaram a entrar no prédio, enquanto tropas marchavam pelas ruas da capital. O ex-presidente Evo Morales, ex-aliado e atual rival de Zúñiga, também denunciou que havia um golpe em curso. Durante o levante, Zúñiga disse que "a mobilização de todas as unidades militares" buscava expressar seu descontentamento "com a situação do país" e que tomaria medidas para "mudar o Gabinete de Governo". (g1) Veja os vídeos do momento em que um tanque avança sobre a porta do palácio presidencial e em que Arce e Zuñiga discutem. (g1) E aqui uma galeria de fotos da tentativa de golpe. (El País) O pano de fundo da crise envolve as rivalidades entre Arce e Morales. O general Zúñiga foi destituído do cargo de comandante do Exército na terça-feira após uma série de ameaças ao ex-presidente. Arce, que foi ministro da Economia de Morales, chegou a pedir no mês passado que as Forças Armadas protegessem seu mandato, dizendo que estava em curso um "golpe suave" para encurtar seu tempo de governo, acusando Morales. A disputa entre os dois ocorre enquanto o país sofre uma crise econômica com escassez de dólares e combustível, além de protestos sociais que o governo considera serem liderados pelo "evismo", o que os setores envolvidos negam. (El País) O presidente Lula se reuniu com o chanceler Mauro Vieira e Celso Amorim, assessor especial da Presidência, antes de o governo divulgar uma nota condenando a tentativa de golpe de Estado. O governo brasileiro manifestou "seu apoio e solidariedade a Arce, ao governo e ao povo boliviano". E disse que estará em interlocução permanente com as autoridades legítimas bolivianas e com os governos dos demais países da América do Sul "para rechaçar essa grave violação da ordem constitucional e reafirmar seu compromisso com a plena vigência da democracia na região". Lula também se manifestou no X: "Sou um amante da democracia e quero que ela prevaleça em toda a América Latina". (Meio) Devido à tentativa de golpe, ainda não há definição se Lula manterá a visita oficial a Arce programada para o próximo dia 9 em La Paz. "É preciso deixar a poeira baixar", disse ao Meio um diplomata. O temor é que, mesmo com o fracasso dos militares, a violência e a insegurança no país escalem. (Meio) O presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, também condenou a tentativa de golpe e lamentou que a América Latina ainda seja influenciada por ideias de intervenções militares contra a democracia. "É triste que a América Latina não consiga superar o ciclo de atraso das intervenções militares", disse o presidente da Corte, pouco antes de seguir para Portugal. (Meio) Sylvia Colombo: "Ainda que as intenções do líder da tentativa de golpe militar não estejam totalmente esclarecidas, é evidente que a irritação dos setores que apoiaram esse gesto injustificável se explica pela continuidade do protagonismo do Movimento ao Socialismo — partido criado por Evo e ao qual Arce pertencia — na política boliviana e a disputa entre ambas as figuras políticas." (Folha) Preocupações com a saúde fiscal do país voltaram a incomodar o mercado financeiro, após entrevista do presidente Lula ao UOL em que ele questionou a necessidade de cortar gastos. "O problema não é que tem que cortar. O problema é saber se precisa efetivamente cortar ou se precisa aumentar a arrecadação. Temos que fazer essa discussão", afirmou. O petista também disse que "enquanto for presidente" não desvinculará o aumento de pensões e do Benefício de Prestação Continuada, concedido a idosos e deficientes de baixa renda, do reajuste do salário mínimo. Essa é uma das medidas avaliadas pela equipe econômica para gerar uma folga fiscal. Segundo Lula, que afirmou que o país mudará de patamar com a aprovação da reforma tributária "ainda este ano", a questão principal é saber se "o dinheiro está sendo gasto para melhorar o futuro do país. Eu acho que está. Estamos vendo onde tem gasto exagerado, mas sem levar em conta o nervosismo do mercado". O mercado reagiu e o dólar fechou cotado a R$ 5,519, maior valor desde janeiro de 2022. (UOL) Míriam Leitão: "O dilema colocado por Lula entre cortar gastos ou aumentar a arrecadação não existe. Aumentar a arrecadação por eficiência do governo, por cobrir determinados pontos que estão na legislação que permitem exigir o pagamento de impostos ou cobrar de quem não paga, reduzindo a injustiça tributária, tem sido a pauta de Haddad. E isso é importante, mas cortar gastos também é." (Globo) Ainda no campo econômico, Lula reiterou sua confiança no ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e disse que o atual diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, cotado para a presidência da autarquia no lugar de Roberto Campos Neto, é altamente preparado. Mas ressaltou que ainda não está pensando na sucessão no BC. "Não indico o presidente do BC para o mercado, indico para o Brasil, ele terá que tomar conta dos interesses do Brasil. E o mercado terá que se adaptar a isso", disse Lula, que não poupou críticas à atual taxa de juros. (UOL) Em relação ao ministro das Comunicações, Juscelino Filho, Lula prometeu afastá-lo se a denúncia de corrupção que enfrenta levá-lo a ser indiciado na Justiça. E defendeu as alianças de seu governo no Congresso: "É o que está me permitindo governar este país. Não da forma como eu queria. A composição que a gente faz nunca atinge a totalidade do partido". Sobre Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo e seu possível adversário nas eleições de 2026, disse: "Não vou julgar o Tarcísio. Tenho pouca relação com ele. Espero que não tenha preocupações de estarmos juntos em alguns eventos. Vou a São Paulo no sábado [anunciar investimentos e inaugurar institutos federais de educação], se ele quiser estar junto, vai estar convidado." Quanto a Jair Bolsonaro (PL), afirmou que espera que ele tenha o direito de se defender e ser ouvido. (UOL) |
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